terça-feira, 24 de maio de 2011

Gélida seda




Ao ver o céu ao leste tingir-se de um forte tom anil, sinto um vento que não conheço alisar meu rosto, diferente daqueles que todo dia venho receber, e que me refresca a alma, mas um vento forte e denso, que ao acariciar minha pele como um pano de seda congelado desperta calafrios por todo meu corpo, e eriça os pelos de meu braço e de minha nuca. Não é um frio que maltrata, que traz dor e faz adoecer... mas um frio que nos faz desejar um abraço apertado e aconchegante e um grosso cobertor de lã  protegendo ambos os corpos. Então, ao senti-la tremer em meus braços, eu afago suas costas enquanto a recebo num abraço apertado, sentindo seu coração bater forte contra meu peito... calor emana dos corpos e nos aquece, nos mantém como um só organismo, que, embora dividido, necessita estar junto pra manter-se em movimento. Beijo-lhe a testa e trago sua delicada cabeça para perto, encaixando-a perfeitamente entre meu queixo e meu peito, e sinto aquele abraço, cada vez mais aconchegante, esquentar meu corpo, desde as partes em contato com o dela, até a nuca e toda minha espinha dorsal, que se arrepia com o choque do vento frio em contato com aquele corpo quente. Então abaixo minha cabeça, com a mão em seu queixo delicado, fito seus olhos, cheios de ternura e uma satisfação que me leva a crer no quanto aquele momento também a agrada, estudo aqueles olhos amendoados e que me parecem enormes, as íris de um tom castanho forte, mas brilhante, que sempre me passaram a impressão de um espírito doce e ao mesmo tempo forte, compenetrante. Trago seu rosto para perto, sinto seu peito ofegar sobre o meu, e sua respiração acelerar o ritmo acompanhando a minha, seus lábios se abrem ligeiramente, deixando o ar quente sair, e sinto-o lamber o meu rosto, fazendo com que minha pele fique eriçada com o choque... então ao fechar os olhos e tentar sentir o momento em que seus lábios delicados tocariam os meus, eu sinto um vácuo. Abro os olhos novamente e busco ao meu redor aquele rosto que deveria estar respirando a centímetros do meu, e aquele corpo que me aquecia... e me lembro de que estava sozinho, apenas a sentir aquele vento frio, que eriçava os pelos de meu braço e de minha nuca. Com um sorriso enviesado que me desponta, eu suspiro, olhando no horizonte o que antes era um anil profundo, agora um tom negro azulado escurecer os céus, trazendo a noite, com mais sensações, ventos frios e calafrios.

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