quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Sede




Após tanto tempo, eis que me deparo novamente com a luz do cobre que brilha em seus olhos. Mas há algo diferente nesse olhar, nessa expressão que me observa... vejo mais maturidade, mais determinação... mais voracidade! E torna-se impossível resistir ao magnetismo desses dois imensos faróis que, agora carregados de uma intensidade e firmeza que antes não tinham, continuam me fitando. Como reagir? Todas as sensações afloram lembranças. A pele se lembra do toque suave e macio da sua, além das reações em cadeia que ele desencadeia: o arrepio, o choque elétrico incendiando todo o corpo e o calor percorrendo as extremidades. Os olhos se lembram da proximidade... de estudar de perto as diferentes nuances da cor acobreada de sua íris e do quão hipnóticos seus enormes olhos podem ser. A boca se lembra do toque aveludado, da sede que desperta, do ímpeto... da sensação de se beijar sorrindo!
Não há como resistir às lembranças, não há como não comparar, como, ao tocar seu corpo, perceber o quanto você está diferente e como ainda é aquela mesma menina com um sorriso zombeteiro, brincando com as minhas sensações e emoções. A voracidade me contagia, não há como evitar. Ao te tomar novamente em meus braços e ao sentir sua cabeça repousar em meu peito, tomo extrema consciência de cada centímetro de meu corpo que está em contato com o seu. Meu ímpeto é me jogar para você e saciar minha sede de sua boca, de seu corpo... de seu êxtase.
Permanecemos nas surdinas, sem alertar nossas intenções, mas perscrutando-nos, analisando-nos, esperando o movimento. Sua voracidade, minha impetuosidade... cúmplices no deslize, cada vez mais nos impelem um ao outro. Ao saciar da sede...

Ao êxtase!


~2015

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Reencontro




Cada dor traz consigo a percepção de finitude. É inevitável pensar que aquilo não passará mais, que você será obrigado a conviver com a sensação de que algo não desceu pela garganta direito e saiu arranhando tudo permanentemente. E você sempre vai achar que é impossível sair dessa caverna, que não dá pra voltar novamente ao ponto de plenitude, em que há, se não felicidade plena, a busca por ela, estimulada pela esperança e, em alguns casos maravilhosos, pelo apoio de alguma parceria. Bem, muitos de nós já tivemos essa sensação.

Então você resolve se dar uma chance, mesmo que sem muita esperança, de viver um pouco! É comum ter várias experiências que, mesmo boas, não te deem a satisfação que você procura. Afinal, aquela dorzinha lá atrás ainda te prende e te atrai para ela.

É irônico ver como, de todas as coisas que eu sempre defendi, foi exatamente o receio que nos aproximou! Dois abestalhados, arrastando as correntes do passado, cheios de medo de se mostrar realmente. Pois exatamente foi sendo abestalhados que nos encontramos, nos identificamos e nos encantamos! Todo carinho que correu por entre nós foi recheado de sarcasmo, escárnio, ironias... mas muito afeto! O sentimento de esperança brota junto com a quantidade de sorrisos, a cada defesa que vai se abaixando, através de um carinho, uma mordida, ou quando ela se escorou em meu ombro e simplesmente cochilou!

Mas parece que a vida nos prova novamente e ela parte... sem previsão de volta e sem termos sequer realmente definido o que queríamos de nós! A vida não está aqui para ser agradável... Porém, “aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno”, como diria Baudelaire, e a esperança brotada lá atrás permanece viva! Assim como o apoio e o carinho, mesmo que a distância insista em nos estapear a cara. E, ora, quem sabe o que o futuro nos reserva?