domingo, 24 de setembro de 2023

Paredes

 


Quatro paredes guardam nosso segredo... O dia, nas suas últimas horas, nos protege e acoberta nossa fuga! No escuro, a luz de um sorriso enorme ilumina sua face e sua pele arrepiando a cada beijo me faz procurar seu pescoço no espaço entre um beijo e outro... abrir os olhos ao te beijar me faz acreditar que os cantos da sua boca não sabem desfazer o sorriso que brinca em seus lábios e me puxa pra você!

Quatro paredes testemunham nosso desejo... Arfamos, sedentos, buscando a pele um do outro, como se a sede fosse insaciável e quanto mais sentia, mais bebia, e mais desejava! As mãos, num misto entre suavidade e voracidade, correm por todo o corpo, desde o pescoço, a linha do queixo, até se perderem em completa profusão de espasmos, incontroláveis, que percorriam todo o nosso corpo, nada tinha fim, não existia extremidade! Falta ar, sobra calor! Transbordamos juntos...

Quatro paredes protegem nosso carinho... E abraçado a você, no escuro, te provoco e damos risadas ao notar que suas pernas ficam arrepiadas, não importa quantas vezes eu beije sua orelha! O cheiro de seu cabelo me inebria e, apertando seu corpo junto ao meu, eu imploro pra que a noite nunca acabe, que o relógio esqueça de correr e que ninguém precise lembrar de nós. Enquanto aquele sorriso brilhar pra mim, não sentirei falta da luz do sol!

Quatro paredes não mais nos aquecem... naquele espaço, o silêncio ficou, tendo como companhia apenas a saudade. Não mais o carinho ou o desejo, apenas a lembrança, amordaçada, de algo indizível, mas que grita! Pois todas as vezes que vislumbrar, ainda que de longe, ao acaso, sem querer, o seu sorriso largo se abrindo, ele sussurrará pra mim o nosso segredo.

sábado, 2 de setembro de 2023

Mergulhar




É bem confusa, a maneira como as pessoas falam sobre sentimentos. Todo mundo, em algum momento, quer ser dengado, receber um chamego, um carinho... todo mundo gosta da atenção de uma companhia sincera. Mas vivemos o tempo da insegurança! Sempre tem alguém pra trazer Bauman pra falar dos tempos líquidos, mas pouca gente aponta o fato de que fusão que derrete os amores do nosso tempo é, justamente, o medo.

Medo de não ser correspondido, de não ser suficiente, de ser visto por outros como alguém sensível demais, como trouxa ou abestalhado, essas últimas quase exclusivamente fruto de um machismo que insiste em reprimir em nossas crianças as emoções e sentimentos que um dia os tornariam amantes tão carinhosos e dedicados. Não podemos demonstrar devoção, entrega ou qualquer tipo de dedicação e já somos apagados pelo resto do bando de inseguros, que não toleram que algum lobo se desgarre dessa alcateia disfuncional... é triste.

Mas li, em algum lugar, há algum tempo, que o medo é uma reação natural ao desconhecido. Ora, mas o amor é a coisa mais conhecida de todas, ainda que não consigamos conceituar com precisão. Mas qual a necessidade de um conceito? O que precisamos é sentir! E ainda que exista quem não conheça alguma forma de amor, a maioria de nós já foi tocado por ele, em vários formatos, configurações ou expressões. Ainda que, muitas vezes, nossas cismas o eclipsem, disfarcem, apaguem, ele continuará ali, na espera, nem sempre silenciosa, da oportunidade de se impor!

Já amei de muitas maneiras. O amor é aprendido, desenvolvido e, como a utopia, nunca se atinge seu ponto final. Ele é feito pra nos manter aprendendo! Um sistema interno que funciona de maneira especial pra nos mostrar que sempre há um pouco de caminho a trilhar, em direção ao outro. Me disseram, em tom de censura, que eu só escrevo sobre o amor, mas não fazem ideia do tamanho do elogio que me fizeram! Enquanto houver sobre o que falar, ainda há o que viver, o que aprender, e muito para ser.

Não aceito amar pouco. Não acredito, sequer, que exista tal possibilidade. Amor é uma fonte incontrolável, que nem sempre reconhecemos em seu brotar, por parecer uma nascente coberta por folhas, mas que rapidamente alarga-se num córrego ligeiro, cuja correnteza não permite um navegar tranquilo, ou lentamente. Quando nos damos conta, estamos à beira de um imenso oceano, que desaparece no horizonte, ainda que a praia seja visível. Digo dessa forma, pois sempre há a possibilidade de chapinhar as águas que tocam a areia, negando-se o mergulho, na intenção de se manter na sensação de segurança que o raso pé firme pode prover.

Mas de que adianta, ter o oceano a seu alcance, mas nunca abandonar a areia? De que adianta aprender, uma braçada por vez, a nadar, mas molhar apenas os pés? Não me serve, não me apetece. Não me adianta calma da areia, se não posso enxergar a beleza das cores dos corais. Não nasci para amar pouco...


Não nasci para nadar no raso


 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Super Lua



 

Mais uma vez ela lança essa energia intensa e forte sobre nós, clareando com uma luz cálida esta noite quente e nos invadindo o espírito. Já rabisquei tantas vezes sobre ela, ou com sua importante participação, que às vezes penso não ter mais do que falar, mas sentado aqui no quarto, no escuro, te observando entrar através da janela e sentar aqui comigo, arrisco dizer que nunca a contemplarei o suficiente.

Será que ela está te observando também, de sua varanda, próximo à arvore, sentindo a mesma energia que eu, enquanto faz carinho na gata que ronrona em suas pernas? E se estiver, será que pensa em mim, da mesma forma que eu, aqui imaginando a presença dela sentada conosco sob sua luz? Será...?

Você tem o condão de me levar a estes devaneios de ligação, como se te contemplar pudesse me transportar para longe, para perto, como se não existisse distância, para quem te observa.

Talvez ela nem mesmo te veja, talvez nem mesmo lembre de mim, ao te ver. Talvez tenha olhado para você, sorrido, comentado o quanto você fica bella ao sorrir sua luz para nós, e seguido sua noite, em paz e reenergizada. E que momento fantástico deve ter sido o toque da sua beleza refletido naqueles olhos apertadinhos pelo sorriso que se abriu!

Ainda que continue sozinho aqui, iluminado apenas por você, me sinto confortado, abraçado. Sozinho sob sua luz sem calor, eu sorrio e fecho os olhos, pra alternar entre o seu sorriso e o dela... e espero que não seja preciso aguardar a próxima super lua pra que eu sinta a sua presença... ou a dela.

domingo, 6 de agosto de 2023

Banho

 



O barulho da água caindo é um canalizador de paz. Com os olhos fechados e o queixo erguido, refugio-me num recanto distante das atribulações que se inquietam e parecem querer fugir da clausura da mente.

Ouço quando você entra e não dou muita importância, achando que, de novo, esqueceu um creme qualquer e vai sair apenas mandando “ei meu cheiro” pela porta apressada. É por isso que me assusto quando suas mãos tocam meu peito e sinto seu rosto, já se molhando, pressionando contra minhas costas num abraço apertado... e rapidamente volto a fechar os olhos, apertando suas mãos e sentindo seus cabelos, por mais curtos que sejam, colando em minha pele...

Me viro e vejo seus olhos sorrirem pra mim, junto com o traçado tão expressivo de sua boca... devaneio alguns segundos em resfolegar, com um impacto tão cheio de aconchego! E mais alguns segundos ao correr os olhos por seu corpo, já todo molhado da água que espirra em meus ombros, e encantado por cada marquinha, como se fosse a primeira vez que o vejo. É sempre um adolescente que floresce em meu peito, cheio de desejo, pressa e fulgor..., mas que o tempo me ensinou a domar, de maneira que meus olhos absorvem com prazer cada marca, curva, desenho desse templo que se arrepia com a água enquanto eu me perco te olhando.

Meu impulso, após o sorriso que me veio com uma naturalidade tão grande que é como se estivesse ali, é de te abraçar forte, com a água caindo em volta do nosso corpo... não plural. Singular. Extenso... Sentir você me puxar pra perto e levantar a cabeça pra me beijar... passar a mão em suas costas, sentindo a textura molhada e o arrepio que te faz virar o rosto de lado, se esticando e levantando a orelha, para então encostar-se de lado em meu peito. Eu me aproveito do alcance pra beijar bem devagar seu pescoço e te aperto ainda mais sobre meus braços, sentindo seu corpo reagir e a gente se excitar juntos, à medida que nossas peles ficam super conscientes do tato das extremidades do outro... sendo capazes de sentir cada movimento de respiração, da água, cada contorno do corpo que a água segue e onde nossas mãos podem alcançar, apertar...

Você afasta a cabeça, sorri pra mim e, com a mão em meu rosto, diz com sua voz sussurrada e rouca, cuja lembrança sempre arrancará um sorriso meu: “eu estou aqui com você, meu bem. Sempre!”

Então o toque cálido dos seus lábios cura a alma, transcendem o corpo e me acompanharão nos sonhos mais tenros que eu puder vir a ter...


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Contato

 



O frio nunca me apeteceu. Estar perto e precisar de um esforço de combustão para sentir o calor, não se aquecer apenas pelo toque e o contato, é como se algo estivesse em falta, como se as lufadas de vento da rotina e do habito apagassem a chama natural, que só volta a arder quando o frio treme as entranhas, num esforço plástico de buscar um equilíbrio que dura um átimo, um estalo de faíscas e logo se apaga sem ser devidamente alimentado, retornando à frieza anterior.


A chama irrefreada também não me apetece. Não que o calor não seja o ideal, afinal a labareda dançante é como o abraço que deliciosamente queima a pele, acordando os sentidos e tornando o contato uma própria reprodução de uma língua de fogo pulsante... Mas que não se mantém, a menos que seja constantemente alimentado. E a chama não compartilha o oxigênio, ela apenas o consome! O fogo não permite a companhia, pois seu ardor é sobre atrair tudo para si e alimentar-se, aumentando sua chama e consumindo tudo que se aproxima. E se não for devidamente alimentado, se apaga. Não é possível estar ao lado, só longe, em contemplação, ou dentro, à serventia de combustível.


O morno, tampouco, me apetece. E a esta altura devo soar como um insatisfeito a quem nada agrada. Afinal se à frieza falta calor e à chama falta partilha, o ideal não seria o meio termo, o equilíbrio entre os dois extremos? Não, eu digo, pois o morno é a temperatura dos temerários. Opta pelo morno a pessoa que tem medo de se queimar, portanto não experimenta a chama, mas também a pessoa que foge da frieza, pois o tremor será sempre solitário. O morno não aquece nem esfria. O morno é vazio. E o vazio é ainda pior que os anteriores, pois promete esquentar na solidão, sem oferecer o calor da companhia. Ora, de que adianta?


Mas então o que sobra? Se os extremos transbordam e o meio esvazia, o que buscar? Aliás, por que buscar? Ora, sei eu o que arde em mim? Preciso me encaixar nesses termos?

Eu prefiro, então, queimar como brasa. Arder constantemente, exalar calor, manter aquecido, ao tempo que minhas chamas não consumirão meus arredores. A brasa não apenas permite, sem absorver, a companhia de outras, mas também as tem como bem vindas! Afinal, o calor provocado pela parceria a mantém acesa, sem suprimir o calor da outra. Assim como ela não se apaga instantaneamente ao sentir o vento frio, também não é de pronto absorvida pela presença do fogo, pois ao ser lambida pelas chamas, ela também se alimenta, se aproximando de uma perenidade deliciosa, que mantém o ardor e atiça os sentidos sem queimar rapidamente, prolongando a sensação de aconchego, calor e conforto... e que enquanto arder, viva!

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Aroma



Oi meu dengo.

Eu queria estar escrevendo neste momento mais um dos textos que já fiz quando você, em minha mente, contemplava a lua em seu quintal, ouvindo minhas palavras e me olhando com esses olhares profundos e o sorriso enviesado que brinca em seu rosto. Infelizmente cada ato nosso tem consequência e eu, irremediavelmente, estou colhendo o amargor da semente que plantei. 

Eu conheço a dor de produzir palavras tristes, mas dessa vez é diferente! Não dói escrever. Não dói pensar em você. Só sorrisos brotam no meu rosto, empapado de lágrimas, quando você me vem à cabeça, a cada cinco minutos, me fazendo pegar o celular institivamente pra olhar sua foto do perfil. O que dói é não poder te chamar ali na mesma hora e dizer “ei dengo, saudade de você” e mandar aquela figurinha pecaminosa que faz a gente rir sempre da mesma coisa, quebrando todo tipo de clima, mas que não conseguimos deixar de mandar. O que dói não é devanear como teria sido a gente na rede, como falamos tantas vezes, é olhar pra a rede e saber que ela não vai ser pressionada por nossos braços e pernas, desengonçados, descobrindo que não é assim tão confortável por muito tempo, mas rindo juntos e se abraçando de qualquer jeito, antes de desistir e se largar no sofá.

Eu vivi, antes e agora, dias de devaneios, de sonhos, de compartilhar contigo cada desejo que tínhamos de viver coisas simples, a ponto de associarmos nossos perfumes com tanta força que, mesmo sem nunca sentir um no outro, se eu levar aquele sachê ao nariz e fechar os olhos, é seu rosto que eu contemplarei de automático. A caixa dele está devidamente guardada agora e o que dói é saber que aquele aroma permanecerá apenas no chá.

As minas, as cachoeiras, os acampamentos em algum lajedo qualquer, as ametistas, tudo que me lembra você perdeu o brilho. Não faz mais sentido! E o que angustia é exatamente saber que a dor não está nas coisas. A dor reside em não poder tê-las, em não poder pertencer a elas em sua mente. A dor é algo impalpável, não vem de perto, mas de algo inalcançável. E ainda assim parece que cada coisinha dessa me foi arrancada do peito a fórceps, deixando para trás o vazio.

Aqui dentro desse peito lacerado, num cantinho, no meio do esmagador nada que restou, agarrado ferrenhamente, como se sua vida dependesse disso, um persistente devaneio. Uma abstração que persiste em acreditar que um dia ainda estaremos à beira do Tiburtino, largados ao sol, sorrindo como se ele nunca fosse se pôr.

E que devaneio teimoso é a esperança... 

domingo, 13 de junho de 2021

Proibido

 



O que fazer quando um querer não pode ser gritado e levado pelo vento? Como lidar com um desejo que, proibido, censurado, calado, não pode lacerar o peito e tomar de impulso todo o corpo e alma desejados, em um espasmo convulsionante, porém sincronizado, consumindo-se em saciedade?

Desde que você apareceu em meu caminho, cada boa noite oculta um pedido, uma expressão desejosa, um sussurro que deveria ser feito ao ouvido. Cada bom dia expressa o desejo de amanhecer em carícias leves, que carregam na ponta dos dedos toda a eletricidade que desperta o corpo e o espírito.

O que fazer eu não sei. Desprezo saber. Porém sei, cá errado e persistente no erro, que quero continuar a ver-te ruborizada quando falo, com o mesmo encantamento e a mesma dose de lascívia, tanto do seu sorriso avassalador, belo e apaixonante, quanto das suas coxas e da curva perfeita que seu quadril faz ao inclinar a bunda de modo provocador, esperando por meu sorriso desajeitado e rindo de minhas palavras atrapalhadas ao ficar completamente descompassado com seu intento.

Quero continuar a ver, ainda que apenas quando fecho os olhos, você, completamente nua, deitada em minha cama, a pele reluzente refletindo a fraca luz que rompe as cortinas, confortável, descansando, recuperando o fôlego e aguardando que a alma retorne para o corpo, após ter sido lançada em combustão. Quero recostar-me ao seu lado e alisar suas costas, rindo ao ver o choque ao primeiro toque, e me deliciando com seu prazer ao ser tocada, evidenciado por cada ponto de arrepio em sua pele...

E que afortunado serei eu, se cada devaneio por nós dois construído, imaginado, trocado e alimentado, puder realizar-se, com adendos e ousados improvisos, como chamas que se materializem do calor emanado de nossos corpos e que resfriam em vapor a cada arfar impulsionado por nosso peito soluçante de desejo e de êxtase. Como a materialização da suavidade áspera da pele, sempre presente como uma imaginação abstrata, agora arranhada efusivamente em despejo por cada arroubo insaciável de prazer.

A dúvida torna-se irrelevante, o receio do devir torna-se distante. Não nos importa o amanhã. Nossos corpos são o agora. Nossos corações estão em profusão. Não esperam, não duvidam, não receiam. Ambos apenas gozam como se a exaustão fosse o alcançar do paraíso. Em uma harmonia material e abstrata, transcendente e imanente, que une corpo e espírito em uma só pira de fogo ardente e incessante.


Se é certo não sei. Não me importo mais. O que sei é que, se também assim desejar, que deixemos arder!