domingo, 13 de junho de 2021

Proibido

 



O que fazer quando um querer não pode ser gritado e levado pelo vento? Como lidar com um desejo que, proibido, censurado, calado, não pode lacerar o peito e tomar de impulso todo o corpo e alma desejados, em um espasmo convulsionante, porém sincronizado, consumindo-se em saciedade?

Desde que você apareceu em meu caminho, cada boa noite oculta um pedido, uma expressão desejosa, um sussurro que deveria ser feito ao ouvido. Cada bom dia expressa o desejo de amanhecer em carícias leves, que carregam na ponta dos dedos toda a eletricidade que desperta o corpo e o espírito.

O que fazer eu não sei. Desprezo saber. Porém sei, cá errado e persistente no erro, que quero continuar a ver-te ruborizada quando falo, com o mesmo encantamento e a mesma dose de lascívia, tanto do seu sorriso avassalador, belo e apaixonante, quanto das suas coxas e da curva perfeita que seu quadril faz ao inclinar a bunda de modo provocador, esperando por meu sorriso desajeitado e rindo de minhas palavras atrapalhadas ao ficar completamente descompassado com seu intento.

Quero continuar a ver, ainda que apenas quando fecho os olhos, você, completamente nua, deitada em minha cama, a pele reluzente refletindo a fraca luz que rompe as cortinas, confortável, descansando, recuperando o fôlego e aguardando que a alma retorne para o corpo, após ter sido lançada em combustão. Quero recostar-me ao seu lado e alisar suas costas, rindo ao ver o choque ao primeiro toque, e me deliciando com seu prazer ao ser tocada, evidenciado por cada ponto de arrepio em sua pele...

E que afortunado serei eu, se cada devaneio por nós dois construído, imaginado, trocado e alimentado, puder realizar-se, com adendos e ousados improvisos, como chamas que se materializem do calor emanado de nossos corpos e que resfriam em vapor a cada arfar impulsionado por nosso peito soluçante de desejo e de êxtase. Como a materialização da suavidade áspera da pele, sempre presente como uma imaginação abstrata, agora arranhada efusivamente em despejo por cada arroubo insaciável de prazer.

A dúvida torna-se irrelevante, o receio do devir torna-se distante. Não nos importa o amanhã. Nossos corpos são o agora. Nossos corações estão em profusão. Não esperam, não duvidam, não receiam. Ambos apenas gozam como se a exaustão fosse o alcançar do paraíso. Em uma harmonia material e abstrata, transcendente e imanente, que une corpo e espírito em uma só pira de fogo ardente e incessante.


Se é certo não sei. Não me importo mais. O que sei é que, se também assim desejar, que deixemos arder!