sexta-feira, 7 de maio de 2021

Nunca




 


Vamos viajar? Eu e você. Só. Pegar a estrada em direção a um lugar isolado, qualquer um. Uma cachoeira escondida no meio da caatinga, um chalé na beira do mar, ou uma pousada na Chapada? Qualquer lugar que tenha alguma água correndo por perto... Quero poder acordar com a luz do sol, sem alarmes e sem compromissos, poder olhar para o lado e te ver, nua, dormindo serenamente, alisar suas costas e, caso você acorde, que comecemos nosso dia em tremores, arfares e no saciar da vontade do outro. Quero levantar, fazer um café forte, comer um cuscuz, te ver se lambuzar e ficar abestalhado enquanto você ri da própria bagunça. E que nunca diminua a leveza.

Não teríamos, ao menos por um par ou dois de dias, compromissos a comparecer, cronogramas a cumprir, respostas a dar, teríamos apenas um ao outro e uma vontade de que aquele tempo dure muito! Com toda a leveza de apenas estar apreciando a companhia do outro. Sair, caminhar pela praia, ou pelo rio, falar bobagens e amenidades, se abraçar todas as vezes que assim der vontade e, por favor, que nunca acabem os beijos e os arfantes sorrisos que os precedem.

Voltaríamos ao nosso quarto, ou barraca, ou chalé, eu iria ao violão pra te ouvir cantar, desajeitados, contentes, felizes e nos divertindo. Nos embriagaríamos, não só do líquido, ou da fumaça, mas também um do outro, do desejo, do ardor, das carícias. E que nunca faltem afeto e afago, combustíveis intermináveis.

Ir embora talvez fosse triste. O mundo nos aperta, suprime, entristece e amedronta. Somos levados a ter receio dos afetos, das perdas, das decepções. Mas levaríamos conosco a certeza de que, mesmo que sempre devamos apreciar o momento sabendo que ele acabará, estaremos sempre ao alcance do outro. Aquele rosto lambuzado, os pés na água, o violão no canto, os abraços e afagos. E que nunca falte caminho para retornar.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Madrugada


 



Acordo lentamente, ao sentir um movimento seu e olho com cuidado para a cena hipnotizante à minha frente: Sua pele pálida reflete a luz que entra, insistente, pelas cortinas mal fechadas e destacam as pintinhas que salpicam suas costas. Passo a mão ali de leve e sinto sua pele arrepiar. Você dorme um sono leve, suspira ao menor toque. Te abraço, então, beijo seu pescoço e passo a mão por sua barriga, e sinto você, sem sequer abrir o olho, agarrar minha mão e a puxar para o peito. Sinto uma brasa se acender em meu peito quando você inclina o pescoço, convidativo, magnético, deixando aquela pele suave à mostra... e sinto ela com meus lábios já arfantes, enquanto te puxo pra mais perto e sinto suas costas encostarem em meu peito. Quando você joga o braço por trás e me puxa pelo quadril é como se aquela brasa se acendesse em chama e, mesmo que continuemos a nos mover com suavidade, absorvendo cada centímetro explorado, uma supernova explode entre nossos corpos!

Beijo suas costas e vou em direção à sua boca, enquanto sua mão passeia por minhas coxas e você começa a arfar baixinho. Quando nossos lábios se tocam você se vira e num impulso quase violento me joga para trás! Por um átimo minha mente se assusta, mas antes que ele terminasse você já estava segurando meus pulsos acima da minha cabeça enquanto me beija com avidez. Um leve farfalhar das cortinas, você levanta para respirar e vejo o sorriso mais encantador do mundo aparecer entre lufadas de ar e você passa a mão em meu peito, volta a me beijar e me dizer coisas, baixinho, que sempre pertencerão apenas a nós!

Suas mãos passeiam pelo meu corpo, às vezes se entrelaçando com meus dedos ao cruzar as minhas que exploravam cada centímetro de sua pele suave, que se marcava suavemente ao sentir meu aperto. A sua voz escapa, incontrolável, em momentos de controle tênue, rapidamente sufocada pelas costas da sua mão, exigindo que a outra apertasse a minha pele, numa tentativa de recuperar o controle.

Vez ou outra um movimento brusco, um puxão para jogar-se por cima do outro, uma valsa interminável de rompantes em resposta à sede que parecia aumentar a cada gole que tomávamos um do outro, as bocas sempre sedentas e arfantes pareciam ter congelado em inacreditáveis sorrisos, que insistiam em decorar aquela cena, normalmente tão rígida, mas que, em nossos corpos, fluía com uma suavidade relaxante, até carinhosa, ainda que não parasse de aumentar a chama que ardia com o encontro de nossos peitos.

Aquela dança, intensa, que esquentava nossos corpos, parecia que nos impulsionava a querer mais o outro! Cada vez que você sussurrava me dava mais desejo de você, do atrito com sua pele, de sentir cada vibração e reação espontânea da sua pele e os espasmos em suas coxas!

A energia em nós, que parecia infinita, dá seus últimos suspiros e não mais aguentamos sequer falar! Bebemos tanto um do outro, saciamos nossa sede, então ficamos ali, suspensos, lívidos, respirando abraçados, trocando carícias e sorrisos intermináveis. Mas inesperadamente, com um olhar lascivo, intenso, e após uma evidente e descarada mordida no lábio inferior você se aproxima do meu ouvido e, com uma mão passando pela minha coxa, sussurra novamente e desperta algo em mim...

Mais sede!

Mergulho



 

Em meio a uma divagação sobre os astros, revelações inesperadas

Sintonizamos o desejo, a vontade, a sede, surpreendentes pares desconectados

Ansiamos por tornar as sensações, já descritas, reais... Palpáveis! Memórias!

O vislumbre nos torna ainda mais sedentos e mergulhamos um no outro

Uma imersão súbita, forte, mas tão leve que convida mais para o fundo

Uma inusitada suavidade intensa, um fazer sentir, uma explosão sussurrada

Duas luas frias passam a nos procurar, contagiando e alimentando sem nos ver

Sua pele branca, único reflexo de luz em nosso mergulho, ilumina meu rosto lívido

Páginas são trocadas tanto quanto sorrisos, que já não sabem mais o caminho de ir embora

Carícias viram afagos, tornam-se "safarinhos" e descansam em novas carícias

A cada beijo sorrindo, uma chama nova aquece o peito

Emergimos, saímos da água, a sede nos acompanha

 

E mais mergulhos o corpo pede, implora!

Mais saltos, profundos, leves

Mais água me torno, mais água quero ser e mais quero beber