O barulho da água caindo é um
canalizador de paz. Com os olhos fechados e o queixo erguido, refugio-me num
recanto distante das atribulações que se inquietam e parecem querer fugir da
clausura da mente.
Ouço quando você entra e não dou
muita importância, achando que, de novo, esqueceu um creme qualquer e vai sair
apenas mandando “ei meu cheiro” pela porta apressada. É por isso que me assusto
quando suas mãos tocam meu peito e sinto seu rosto, já se molhando,
pressionando contra minhas costas num abraço apertado... e rapidamente volto a
fechar os olhos, apertando suas mãos e sentindo seus cabelos, por mais curtos
que sejam, colando em minha pele...
Me viro e vejo seus olhos
sorrirem pra mim, junto com o traçado tão expressivo de sua boca... devaneio
alguns segundos em resfolegar, com um impacto tão cheio de aconchego! E mais
alguns segundos ao correr os olhos por seu corpo, já todo molhado da água que
espirra em meus ombros, e encantado por cada marquinha, como se fosse a
primeira vez que o vejo. É sempre um adolescente que floresce em meu peito,
cheio de desejo, pressa e fulgor..., mas que o tempo me ensinou a domar, de
maneira que meus olhos absorvem com prazer cada marca, curva, desenho desse
templo que se arrepia com a água enquanto eu me perco te olhando.
Meu impulso, após o sorriso que
me veio com uma naturalidade tão grande que é como se estivesse ali, é de te
abraçar forte, com a água caindo em volta do nosso corpo... não plural.
Singular. Extenso... Sentir você me puxar pra perto e levantar a cabeça pra me
beijar... passar a mão em suas costas, sentindo a textura molhada e o arrepio
que te faz virar o rosto de lado, se esticando e levantando a orelha, para
então encostar-se de lado em meu peito. Eu me aproveito do alcance pra beijar
bem devagar seu pescoço e te aperto ainda mais sobre meus braços, sentindo seu
corpo reagir e a gente se excitar juntos, à medida que nossas peles ficam super conscientes do tato das extremidades do outro... sendo capazes de sentir cada
movimento de respiração, da água, cada contorno do corpo que a água segue e
onde nossas mãos podem alcançar, apertar...
Você afasta a cabeça, sorri pra
mim e, com a mão em meu rosto, diz com sua voz sussurrada e rouca, cuja
lembrança sempre arrancará um sorriso meu: “eu estou aqui com você, meu bem.
Sempre!”
Então o toque cálido dos seus
lábios cura a alma, transcendem o corpo e me acompanharão nos sonhos mais
tenros que eu puder vir a ter...
Gosto que os desejos mais sinceros do seu coração se apoiam nas miudezas valiosas da vida - e por isso nem tão simples de alcançar -, como esse banho ou simplesmente acordar ao lado de quem se ama.
ResponderExcluir"E que devaneio teimoso é a esperança..."