sábado, 2 de setembro de 2023

Mergulhar




É bem confusa, a maneira como as pessoas falam sobre sentimentos. Todo mundo, em algum momento, quer ser dengado, receber um chamego, um carinho... todo mundo gosta da atenção de uma companhia sincera. Mas vivemos o tempo da insegurança! Sempre tem alguém pra trazer Bauman pra falar dos tempos líquidos, mas pouca gente aponta o fato de que fusão que derrete os amores do nosso tempo é, justamente, o medo.

Medo de não ser correspondido, de não ser suficiente, de ser visto por outros como alguém sensível demais, como trouxa ou abestalhado, essas últimas quase exclusivamente fruto de um machismo que insiste em reprimir em nossas crianças as emoções e sentimentos que um dia os tornariam amantes tão carinhosos e dedicados. Não podemos demonstrar devoção, entrega ou qualquer tipo de dedicação e já somos apagados pelo resto do bando de inseguros, que não toleram que algum lobo se desgarre dessa alcateia disfuncional... é triste.

Mas li, em algum lugar, há algum tempo, que o medo é uma reação natural ao desconhecido. Ora, mas o amor é a coisa mais conhecida de todas, ainda que não consigamos conceituar com precisão. Mas qual a necessidade de um conceito? O que precisamos é sentir! E ainda que exista quem não conheça alguma forma de amor, a maioria de nós já foi tocado por ele, em vários formatos, configurações ou expressões. Ainda que, muitas vezes, nossas cismas o eclipsem, disfarcem, apaguem, ele continuará ali, na espera, nem sempre silenciosa, da oportunidade de se impor!

Já amei de muitas maneiras. O amor é aprendido, desenvolvido e, como a utopia, nunca se atinge seu ponto final. Ele é feito pra nos manter aprendendo! Um sistema interno que funciona de maneira especial pra nos mostrar que sempre há um pouco de caminho a trilhar, em direção ao outro. Me disseram, em tom de censura, que eu só escrevo sobre o amor, mas não fazem ideia do tamanho do elogio que me fizeram! Enquanto houver sobre o que falar, ainda há o que viver, o que aprender, e muito para ser.

Não aceito amar pouco. Não acredito, sequer, que exista tal possibilidade. Amor é uma fonte incontrolável, que nem sempre reconhecemos em seu brotar, por parecer uma nascente coberta por folhas, mas que rapidamente alarga-se num córrego ligeiro, cuja correnteza não permite um navegar tranquilo, ou lentamente. Quando nos damos conta, estamos à beira de um imenso oceano, que desaparece no horizonte, ainda que a praia seja visível. Digo dessa forma, pois sempre há a possibilidade de chapinhar as águas que tocam a areia, negando-se o mergulho, na intenção de se manter na sensação de segurança que o raso pé firme pode prover.

Mas de que adianta, ter o oceano a seu alcance, mas nunca abandonar a areia? De que adianta aprender, uma braçada por vez, a nadar, mas molhar apenas os pés? Não me serve, não me apetece. Não me adianta calma da areia, se não posso enxergar a beleza das cores dos corais. Não nasci para amar pouco...


Não nasci para nadar no raso


 

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