É bem confusa, a maneira como as pessoas falam sobre
sentimentos. Todo mundo, em algum momento, quer ser dengado, receber um
chamego, um carinho... todo mundo gosta da atenção de uma companhia sincera.
Mas vivemos o tempo da insegurança! Sempre tem alguém pra trazer Bauman pra
falar dos tempos líquidos, mas pouca gente aponta o fato de que fusão que
derrete os amores do nosso tempo é, justamente, o medo.
Medo de não ser correspondido, de não ser suficiente, de ser
visto por outros como alguém sensível demais, como trouxa ou abestalhado, essas
últimas quase exclusivamente fruto de um machismo que insiste em reprimir em
nossas crianças as emoções e sentimentos que um dia os tornariam amantes tão
carinhosos e dedicados. Não podemos demonstrar devoção, entrega ou qualquer
tipo de dedicação e já somos apagados pelo resto do bando de inseguros, que não
toleram que algum lobo se desgarre dessa alcateia disfuncional... é triste.
Mas li, em algum lugar, há algum tempo, que o medo é uma
reação natural ao desconhecido. Ora, mas o amor é a coisa mais conhecida de
todas, ainda que não consigamos conceituar com precisão. Mas qual a necessidade
de um conceito? O que precisamos é sentir! E ainda que exista quem não conheça
alguma forma de amor, a maioria de nós já foi tocado por ele, em vários
formatos, configurações ou expressões. Ainda que, muitas vezes, nossas cismas o
eclipsem, disfarcem, apaguem, ele continuará ali, na espera, nem sempre
silenciosa, da oportunidade de se impor!
Já amei de muitas maneiras. O amor é aprendido, desenvolvido
e, como a utopia, nunca se atinge seu ponto final. Ele é feito pra nos manter
aprendendo! Um sistema interno que funciona de maneira especial pra nos mostrar
que sempre há um pouco de caminho a trilhar, em direção ao outro. Me disseram,
em tom de censura, que eu só escrevo sobre o amor, mas não fazem ideia do
tamanho do elogio que me fizeram! Enquanto houver sobre o que falar, ainda há o
que viver, o que aprender, e muito para ser.
Não aceito amar pouco. Não acredito, sequer, que exista tal
possibilidade. Amor é uma fonte incontrolável, que nem sempre reconhecemos em
seu brotar, por parecer uma nascente coberta por folhas, mas que rapidamente
alarga-se num córrego ligeiro, cuja correnteza não permite um navegar tranquilo,
ou lentamente. Quando nos damos conta, estamos à beira de um imenso oceano, que
desaparece no horizonte, ainda que a praia seja visível. Digo dessa forma, pois
sempre há a possibilidade de chapinhar as águas que tocam a areia, negando-se o
mergulho, na intenção de se manter na sensação de segurança que o raso pé firme
pode prover.
Mas de que adianta, ter o oceano a seu alcance, mas nunca
abandonar a areia? De que adianta aprender, uma braçada por vez, a nadar, mas
molhar apenas os pés? Não me serve, não me apetece. Não me adianta calma da areia,
se não posso enxergar a beleza das cores dos corais. Não nasci para amar
pouco...
Não nasci para nadar no raso
Texto bonito demais da conta, parabéns prof!🥰
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