quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Super Lua



 

Mais uma vez ela lança essa energia intensa e forte sobre nós, clareando com uma luz cálida esta noite quente e nos invadindo o espírito. Já rabisquei tantas vezes sobre ela, ou com sua importante participação, que às vezes penso não ter mais do que falar, mas sentado aqui no quarto, no escuro, te observando entrar através da janela e sentar aqui comigo, arrisco dizer que nunca a contemplarei o suficiente.

Será que ela está te observando também, de sua varanda, próximo à arvore, sentindo a mesma energia que eu, enquanto faz carinho na gata que ronrona em suas pernas? E se estiver, será que pensa em mim, da mesma forma que eu, aqui imaginando a presença dela sentada conosco sob sua luz? Será...?

Você tem o condão de me levar a estes devaneios de ligação, como se te contemplar pudesse me transportar para longe, para perto, como se não existisse distância, para quem te observa.

Talvez ela nem mesmo te veja, talvez nem mesmo lembre de mim, ao te ver. Talvez tenha olhado para você, sorrido, comentado o quanto você fica bella ao sorrir sua luz para nós, e seguido sua noite, em paz e reenergizada. E que momento fantástico deve ter sido o toque da sua beleza refletido naqueles olhos apertadinhos pelo sorriso que se abriu!

Ainda que continue sozinho aqui, iluminado apenas por você, me sinto confortado, abraçado. Sozinho sob sua luz sem calor, eu sorrio e fecho os olhos, pra alternar entre o seu sorriso e o dela... e espero que não seja preciso aguardar a próxima super lua pra que eu sinta a sua presença... ou a dela.

domingo, 6 de agosto de 2023

Banho

 



O barulho da água caindo é um canalizador de paz. Com os olhos fechados e o queixo erguido, refugio-me num recanto distante das atribulações que se inquietam e parecem querer fugir da clausura da mente.

Ouço quando você entra e não dou muita importância, achando que, de novo, esqueceu um creme qualquer e vai sair apenas mandando “ei meu cheiro” pela porta apressada. É por isso que me assusto quando suas mãos tocam meu peito e sinto seu rosto, já se molhando, pressionando contra minhas costas num abraço apertado... e rapidamente volto a fechar os olhos, apertando suas mãos e sentindo seus cabelos, por mais curtos que sejam, colando em minha pele...

Me viro e vejo seus olhos sorrirem pra mim, junto com o traçado tão expressivo de sua boca... devaneio alguns segundos em resfolegar, com um impacto tão cheio de aconchego! E mais alguns segundos ao correr os olhos por seu corpo, já todo molhado da água que espirra em meus ombros, e encantado por cada marquinha, como se fosse a primeira vez que o vejo. É sempre um adolescente que floresce em meu peito, cheio de desejo, pressa e fulgor..., mas que o tempo me ensinou a domar, de maneira que meus olhos absorvem com prazer cada marca, curva, desenho desse templo que se arrepia com a água enquanto eu me perco te olhando.

Meu impulso, após o sorriso que me veio com uma naturalidade tão grande que é como se estivesse ali, é de te abraçar forte, com a água caindo em volta do nosso corpo... não plural. Singular. Extenso... Sentir você me puxar pra perto e levantar a cabeça pra me beijar... passar a mão em suas costas, sentindo a textura molhada e o arrepio que te faz virar o rosto de lado, se esticando e levantando a orelha, para então encostar-se de lado em meu peito. Eu me aproveito do alcance pra beijar bem devagar seu pescoço e te aperto ainda mais sobre meus braços, sentindo seu corpo reagir e a gente se excitar juntos, à medida que nossas peles ficam super conscientes do tato das extremidades do outro... sendo capazes de sentir cada movimento de respiração, da água, cada contorno do corpo que a água segue e onde nossas mãos podem alcançar, apertar...

Você afasta a cabeça, sorri pra mim e, com a mão em meu rosto, diz com sua voz sussurrada e rouca, cuja lembrança sempre arrancará um sorriso meu: “eu estou aqui com você, meu bem. Sempre!”

Então o toque cálido dos seus lábios cura a alma, transcendem o corpo e me acompanharão nos sonhos mais tenros que eu puder vir a ter...