Vamos viajar? Eu e você. Só. Pegar a estrada em direção a um
lugar isolado, qualquer um. Uma cachoeira escondida no meio da caatinga, um chalé na beira
do mar, ou uma pousada na Chapada? Qualquer lugar que tenha alguma água
correndo por perto... Quero poder acordar com a luz do sol, sem alarmes e sem
compromissos, poder olhar para o lado e te ver, nua, dormindo serenamente,
alisar suas costas e, caso você acorde, que comecemos nosso dia em tremores, arfares
e no saciar da vontade do outro. Quero levantar, fazer um café forte, comer um
cuscuz, te ver se lambuzar e ficar abestalhado enquanto você ri da própria
bagunça. E que nunca diminua a leveza.
Não teríamos, ao menos por um par ou dois de dias,
compromissos a comparecer, cronogramas a cumprir, respostas a dar, teríamos
apenas um ao outro e uma vontade de que aquele tempo dure muito! Com toda a
leveza de apenas estar apreciando a companhia do outro. Sair, caminhar pela
praia, ou pelo rio, falar bobagens e amenidades, se abraçar todas as vezes que
assim der vontade e, por favor, que nunca acabem os beijos e os arfantes sorrisos
que os precedem.
Voltaríamos ao nosso quarto, ou barraca, ou chalé, eu iria
ao violão pra te ouvir cantar, desajeitados, contentes, felizes e nos
divertindo. Nos embriagaríamos, não só do líquido, ou da fumaça, mas também um
do outro, do desejo, do ardor, das carícias. E que nunca faltem afeto e afago,
combustíveis intermináveis.
Ir embora talvez fosse triste. O mundo nos aperta, suprime,
entristece e amedronta. Somos levados a ter receio dos afetos, das perdas, das
decepções. Mas levaríamos conosco a certeza de que, mesmo que sempre devamos
apreciar o momento sabendo que ele acabará, estaremos sempre ao alcance do
outro. Aquele rosto lambuzado, os pés na água, o violão no canto, os abraços e
afagos. E que nunca falte caminho para retornar.