quarta-feira, 28 de abril de 2021

Sensações

 




O tato pode ser uma conexão profunda. Sentir o toque, a reação involuntária a ele, o arrepio e a contração da pele que se defende de um toque estranho que, mesmo assim, às vezes pode ser convidativo. O olhar, porém, é uma conexão ainda mais potente! Observar o outro, as expressões, os detalhes involuntários de milhões de microexpressões que, num átimo, entregam o que há por dentro de atraentes camadas de mistério, isso é fascinante! Esquadrinhar cada linha, memorizar as formas, vislumbrar cada mudança no rosto causada por uma linha de sorriso que se espalha em direção aos olhos. Riqueza. Mas nenhuma conexão física é mais profunda que ouvir! Se fechar os olhos, ouvir a voz dançando através dos ouvidos, as respirações antes de cada frase, que modificam a intensidade do que é dito, a intensidade de uma sonoridade que, às vezes, nos carrega a um nirvana sensitivo. Arranca, arrasta, transcende! Transforma um suspiro em ventania, deixando nada atrás, arrastando uma pífia tentativa de se manter concentrado. Uma risadinha incontrolável que interrompe uma frase vira um terremoto e não há este que diga que consegue manter-se em pé, ao ouvir tal som, sem também agarrar-se a um sorriso. São forças da natureza! Sem nos tirar do lugar, nos fazem sentir livres, sem limites, sem corpo, sem prisões...

E a natureza, caprichosa que só ela, nunca há de se contentar em enviar apenas uma das suas armas para nos mostrar que não passamos de um brinquedo a seu deleite. O espírito, desavisado, inocente, atraído pelo brilho radiante de sua beleza selvagem, impulsiona-se em direção às suas garras, querendo sentir o arrepio magnético do tato, dançar pelas linhas hipnóticas de um sorriso, ser arrastado por uma voz suave e poderosa... Não importam os perigos! O desejo, primal, é fundir-se a essas forças, sentir elas transpassarem pele, alma e mente, numa apoteose de desejo, fúria, emoção e paixão...

Apenas... Leva-me!

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