O tato pode ser uma conexão profunda. Sentir o toque, a
reação involuntária a ele, o arrepio e a contração da pele que se defende de um
toque estranho que, mesmo assim, às vezes pode ser convidativo. O olhar, porém,
é uma conexão ainda mais potente! Observar o outro, as expressões, os detalhes
involuntários de milhões de microexpressões que, num átimo, entregam o que há
por dentro de atraentes camadas de mistério, isso é fascinante! Esquadrinhar
cada linha, memorizar as formas, vislumbrar cada mudança no rosto causada por
uma linha de sorriso que se espalha em direção aos olhos. Riqueza. Mas nenhuma
conexão física é mais profunda que ouvir! Se fechar os olhos, ouvir a voz
dançando através dos ouvidos, as respirações antes de cada frase, que modificam
a intensidade do que é dito, a intensidade de uma sonoridade que, às vezes, nos
carrega a um nirvana sensitivo. Arranca, arrasta, transcende! Transforma um
suspiro em ventania, deixando nada atrás, arrastando uma pífia tentativa de se
manter concentrado. Uma risadinha incontrolável que interrompe uma frase vira
um terremoto e não há este que diga que consegue manter-se em pé, ao ouvir tal
som, sem também agarrar-se a um sorriso. São forças da natureza! Sem nos tirar
do lugar, nos fazem sentir livres, sem limites, sem corpo, sem prisões...
E a natureza, caprichosa que só ela, nunca há de se
contentar em enviar apenas uma das suas armas para nos mostrar que não passamos
de um brinquedo a seu deleite. O espírito, desavisado, inocente, atraído pelo
brilho radiante de sua beleza selvagem, impulsiona-se em direção às suas
garras, querendo sentir o arrepio magnético do tato, dançar pelas linhas
hipnóticas de um sorriso, ser arrastado por uma voz suave e poderosa... Não
importam os perigos! O desejo, primal, é fundir-se a essas forças, sentir elas
transpassarem pele, alma e mente, numa apoteose de desejo, fúria, emoção e paixão...
Apenas... Leva-me!