Oi meu dengo.
Eu queria estar escrevendo neste momento mais um dos textos que já fiz quando você, em minha mente, contemplava a lua em seu quintal, ouvindo minhas palavras e me olhando com esses olhares profundos e o sorriso enviesado que brinca em seu rosto. Infelizmente cada ato nosso tem consequência e eu, irremediavelmente, estou colhendo o amargor da semente que plantei.
Eu
conheço a dor de produzir palavras tristes, mas dessa vez é diferente! Não dói
escrever. Não dói pensar em você. Só sorrisos brotam no meu rosto, empapado de
lágrimas, quando você me vem à cabeça, a cada cinco minutos, me fazendo pegar o
celular institivamente pra olhar sua foto do perfil. O que dói é não poder te
chamar ali na mesma hora e dizer “ei dengo, saudade de você” e mandar aquela
figurinha pecaminosa que faz a gente rir sempre da mesma coisa, quebrando todo
tipo de clima, mas que não conseguimos deixar de mandar. O que dói não é
devanear como teria sido a gente na rede, como falamos tantas vezes, é olhar
pra a rede e saber que ela não vai ser pressionada por nossos braços e pernas,
desengonçados, descobrindo que não é assim tão confortável por muito tempo, mas
rindo juntos e se abraçando de qualquer jeito, antes de desistir e se largar no
sofá.
Eu vivi, antes e agora, dias de devaneios, de sonhos, de
compartilhar contigo cada desejo que tínhamos de viver coisas simples, a ponto
de associarmos nossos perfumes com tanta força que, mesmo sem nunca sentir um
no outro, se eu levar aquele sachê ao nariz e fechar os olhos, é seu rosto que
eu contemplarei de automático. A caixa dele está devidamente guardada agora e o
que dói é saber que aquele aroma permanecerá apenas no chá.
As minas, as cachoeiras, os acampamentos em algum lajedo
qualquer, as ametistas, tudo que me lembra você perdeu o brilho. Não faz mais
sentido! E o que angustia é exatamente saber que a dor não está nas coisas. A
dor reside em não poder tê-las, em não poder pertencer a elas em sua mente. A
dor é algo impalpável, não vem de perto, mas de algo inalcançável. E ainda
assim parece que cada coisinha dessa me foi arrancada do peito a fórceps,
deixando para trás o vazio.
Aqui dentro desse peito lacerado, num cantinho, no meio do esmagador nada que restou, agarrado ferrenhamente,
como se sua vida dependesse disso, um persistente devaneio. Uma abstração que
persiste em acreditar que um dia ainda estaremos à beira do Tiburtino, largados
ao sol, sorrindo como se ele nunca fosse se pôr.
E que devaneio teimoso é a esperança...