domingo, 11 de abril de 2021

Saia!

 




Oi. Peço-te um agrado. É pouca coisa, questão de necessidade, para que meus sonhos voltem a ser tranquilos e ao acordar o repouso tenha descansado meu corpo:

Por favor. Saia da minha cabeça! Saia dos meus sonhos! Saia do meu olhar, deixe-me em paz quando vejo a lua, ou quando sobe o cheiro de terra molhada! Por favor! Não aguento mais te sentir em meu café! No delicioso amargor que estrala ao toque quente, tal qual sentir sua língua roçando meu pescoço, procurando os pontos por ele espalhados. Não me aquieto mais ao deitar na rede para descansar o fim da tarde, pois o vento que assobia em meu rosto me sugere que “chegue pra lá” para que você possa se aninhar em meu peito. Não suporto mais observar a chuva, pois é impossível não pensar nas vezes que você falou estar deixando que a neblina escorra por seu rosto, por suas curvas, escorrendo por entre as mechas de seu cabelo e arrepiando sua pele ao tocar friamente seus ombros.

Estou desamparado! Sinto que não consigo respirar! Você está em todos os lugares! Nas músicas que ouço, percebo seu nome oculto em cada verso; nos filmes que vejo, ouço sua risada ressoar junto à minha em uma tirada. Minha mão parece sempre se fechar, como se a sua devesse estar ali para ser apertada!

Espero que entendas minha angústia, meu afligir sufocado. Não suporto mais ver-te em todas as cores, escutar-te em todos os sons, sentir-te em cada toque e arrepio, imaginar sua pele em cada aroma, como se tudo cheirasse a essência de maçã com canela...

Sendo assim, te peço, desesperadamente, que pare! Que, em nome da paz em meu espírito e do meu sono tranquilo, assim repito, rogando e apelando ao seu bom senso: saia da minha cabeça!

E ao sair, que venha para meu lado! Para que não mais eu imagine, não mais eu sonhe, não mais eu precise fechar os olhos para sentir teu cheiro... mas que ao abri-los, os teus estejam lá, me observando junto com um sorriso, a lua, a chuva, a essência e todos os beijos que pudermos dar, até que nossas línguas queimem no quente amargor do café que sempre estará em nossas mãos.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Descanso

 




Um dia cansativo, a mente cheia, uma lufada de descanso merecido. Era fim de tarde, a janela do quarto virada para oeste permitia a entrada do sol em um raio alaranjado que ondulava quando um vento batia na cortina. A fórmula perfeita para um descanso do corpo e da alma. E, mal sabia eu, que de outros cansaços também...


Sabe quando você acorda "sonhando"? Pois é. Eu estava deitado, largado na cama, com ventilador em cima, as roupas já largadas em cima da cadeira. Quando aquele clima bucólico se transformou em um sonho tão vívido eu nem percebi que não estava mais acordado.

Ouço sem ver quando você, com cuidado, abriu a porta, entrou e suavemente passou a mão em minhas costas, me acordando. Acordar num sonho é interessante, a gente desperta, mas o mundo continua turvo. E naquele momento a sua mão alisando minhas costas era a única coisa que eu sentia.

Me inclinei, olhei pra cima e te vi: Você usava um body de renda, preto. Delineava sua cintura e quadril perfeitamente. E a renda contrastava com sua pele, dando ainda mais destaque a seu corpo nu que podia entrever naquele tecido tão provocante.

Um detalhe: Durante todo o sonho nós não proferimos UMA palavra sequer.

Eu me virei de peito pra cima, sorrindo, e você começou a passar a mão por minhas pernas e a beijar meu peito. Ainda bem suave e delicada. Quando tentei pegar na sua cintura, você segurou minha mão com firmeza!

Então colocou meus braços acima da minha cabeça e começou a beijar meu pescoço, com mais avidez, a respiração acelerando no mesmo compasso que a minha. Suas mãos desceram explorando meu corpo inteiro e voltaram a acariciar minhas coxas, da parte de fora pra dentro, apertando com mais voracidade, agora.

Neste ponto começou a subir a mão, passando por minha virilha e explorando um pouco ali. Com suavidade em alguns pontos, mas com firmeza onde a mão melhor se encaixou. Acariciando e estimulando, enquanto a outra mão subia pelo meu quadril e costas até meu pescoço

Neste ponto eu recuperei, num lapso, o controle dos movimentos, e puxei você pra cima, pegando pela cintura e te trazendo até meu quadril. Com você sentada ali eu passei as mãos por suas coxas com firmeza, sentindo a maciez da pele arrepiando e o músculo enrijecendo ao toque, em leves espasmos. Alisei os dedos sentindo seu quadril e parei as mãos por ali. Enfiei os dedos pelas bordas rendadas do body e apertei sua bunda quando você inclinou pra frente e me beijou.

 

Ar... me faltou ar neste ponto...

 

Então você se ergue e com um olhar provocante, lascivo, que parecia penetrar em meus olhos, passou a mão por trás de si e levou ela de minha coxa em direção a minha virilha, alisando minha pele com as unhas. Se levantou um pouco, mexendo os quadris pra frente e pra trás, sentindo a carícia que você mesma conduzia e jogando a cabeça pra trás, aparentemente curtindo a sensação do toque, fechando os olhos e abrindo a boca, num leve, profundo e arfante gemido.

Eu já estava com a mão em sua bunda novamente, apertando. Você abaixou a cabeça, abriu os olhos e me olhou, sedenta, faminta. Então você se abaixou e vorazmente me beijou de novo...

 

O êxtase me acordou, arfante, suado e, apesar da frustração inevitável, com uma euforia inexplicável.

 

Volte... Temos algo a terminar.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Companhia lunar


 


Eu não estou aqui.


Mas senta aí no seu quintal, num lugar que bata um vento fresco, de preferência sob a luz da lua. Levante seu expressivo e lindo rosto, com o qual tenho sonhado tão detalhadamente, em direção a ela e deixe que ela a inunde! De cá, de tão longe, estou enviando por ela, velha a miga, um abraço apertado em conforto, aconchego e abrigo. De sua luz pálida, privilegiada, ela ilumina a nós dois, unindo nossos corações em um só, permitindo que, ao menos dessa forma, eles possam se aquecer.

Um carinho em seus cabelos, levado por um suave vento leste, e um afago em sua bochecha, que, queria, estaria acomodada em meu peito, completando nosso abraço apertado. Eu não posso estar aí, não posso te aconchegar em meus braços, te esquentar e te fazer esquecer da dor e da angústia, e isso me corrói. Mas ao olhar para essa luz que nos ilumina, que nos conecta e nos torna próximos, sinta todo meu coração que não mais aqui comigo está, mas bate intensamente em busca de aquecer o seu, que não passará por angustia alguma sozinho.

Estou aqui.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Papo de cafuné






Escora aqui. Deixa eu te contar. Deixa eu te contar de todas as vezes que fechei os olhos e imaginei você com a cabeça em meu ombro... e que o toque aveludado de seus cachos na maçã do meu rosto era exatamente tão maravilhoso quanto eu imaginaria que fosse! Deixa eu te contar que é de propósito, quando eu faço cafuné, dar uma bagunçada de leve, pra que você se levante fazendo uma cara revoltada, escondendo uma risada, reclamando que não quer mais que eu passe a mão ali... só pra dois segundos depois voltar a passar os dedos no seu cabelo e ver você derreter em meu peito! Deixa eu te contar que fico hipnotizado quando vejo seus olhos enormes me olhando e percebo que não são mais estáticos, obras de arte que eu tanto desejava gravados numa imagem congelada que era tudo que eu podia ter de você... Deixa eu sentir suas mordidas, seus arranhões, suas mãos apertando meu braço, me fazendo arrepiar a pele e querer puxar pra mim a sua, na sede, impossível de saciar, de sentir sua textura, seu toque, seu sabor! Deixa eu estender a rede e vamos nos largar desengonçados olhando as estrelas de braços e pernas entrelaçados, contorcendo desconfortavelmente cada vez que temos a ânsia de um beijo! E deixa eu te dizer que cada contorcer eu faria novamente por uma vida, pra sentir você mordendo meu lábio e puxando num sorriso delicioso...

Deixa eu te contar do quanto você me faz sentir em paz... do quanto seu sorriso aquece minha alma e me faz sentir vontade sair soltando fogos pra extravasar a festa que há em meu peito! Deixa eu te contar que sempre que você deita em meu peito eu me sinto abraçando o maior tesouro do mundo, que eu quero cuidar e fazer sorrir, dar carinho e aconchego... ser seu porto seguro, sua segurança! Deixa eu te contar que quero ser seu melhor amigo, seu parceiro de role, seu professor e seu aluno... que quero estar contigo em todas as vitórias comemorando feliz e orgulhoso, mas que também estarei quando uma não for conquistada, pra não te deixar esmorecer e pra segurar sua mão... e pra ser idiota o suficiente pra te arrancar um sorriso até nesses momentos!

Deixa eu te contar que eu não tenho medo do pra sempre, nem de que ele não chegue... que o único medo que eu tenho é de não conseguir ser tudo isso que você merece ter e viver! Deixa eu te mostrar o mundo e as viagens que ainda pretendo viver... os lugares que quero conhecer contigo e os que quero te mostrar... Deixa que o futuro a gente possa escrever juntos, sem deixar que ele nos amedronte, nem que ele não importe!

Deixa eu te dizer que finalmente ter você comigo me faz me sentir a pessoa mais feliz do mundo mesmo que eu acredite não merecer tanto... E me deixa dizer, todo dia, ao acordar, que eu desejo um dia lindo pra você! E ao ir dormir, que você tenha um bom sono, que descanse bem e que sonhe seus sonhos malucos pra que você me conte depois entre risadas e revoltas (e às vezes tapas)!

E me deixa dizer, todo dia, não só uma vez, mas todas as vezes que isso emanar de meu peito, o quanto eu te amo, Preta! O quanto você é importante pra mim!

E o quanto eu sou feliz por você me deixar te dizer tudo isso...

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Sede




Após tanto tempo, eis que me deparo novamente com a luz do cobre que brilha em seus olhos. Mas há algo diferente nesse olhar, nessa expressão que me observa... vejo mais maturidade, mais determinação... mais voracidade! E torna-se impossível resistir ao magnetismo desses dois imensos faróis que, agora carregados de uma intensidade e firmeza que antes não tinham, continuam me fitando. Como reagir? Todas as sensações afloram lembranças. A pele se lembra do toque suave e macio da sua, além das reações em cadeia que ele desencadeia: o arrepio, o choque elétrico incendiando todo o corpo e o calor percorrendo as extremidades. Os olhos se lembram da proximidade... de estudar de perto as diferentes nuances da cor acobreada de sua íris e do quão hipnóticos seus enormes olhos podem ser. A boca se lembra do toque aveludado, da sede que desperta, do ímpeto... da sensação de se beijar sorrindo!
Não há como resistir às lembranças, não há como não comparar, como, ao tocar seu corpo, perceber o quanto você está diferente e como ainda é aquela mesma menina com um sorriso zombeteiro, brincando com as minhas sensações e emoções. A voracidade me contagia, não há como evitar. Ao te tomar novamente em meus braços e ao sentir sua cabeça repousar em meu peito, tomo extrema consciência de cada centímetro de meu corpo que está em contato com o seu. Meu ímpeto é me jogar para você e saciar minha sede de sua boca, de seu corpo... de seu êxtase.
Permanecemos nas surdinas, sem alertar nossas intenções, mas perscrutando-nos, analisando-nos, esperando o movimento. Sua voracidade, minha impetuosidade... cúmplices no deslize, cada vez mais nos impelem um ao outro. Ao saciar da sede...

Ao êxtase!


~2015

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Reencontro




Cada dor traz consigo a percepção de finitude. É inevitável pensar que aquilo não passará mais, que você será obrigado a conviver com a sensação de que algo não desceu pela garganta direito e saiu arranhando tudo permanentemente. E você sempre vai achar que é impossível sair dessa caverna, que não dá pra voltar novamente ao ponto de plenitude, em que há, se não felicidade plena, a busca por ela, estimulada pela esperança e, em alguns casos maravilhosos, pelo apoio de alguma parceria. Bem, muitos de nós já tivemos essa sensação.

Então você resolve se dar uma chance, mesmo que sem muita esperança, de viver um pouco! É comum ter várias experiências que, mesmo boas, não te deem a satisfação que você procura. Afinal, aquela dorzinha lá atrás ainda te prende e te atrai para ela.

É irônico ver como, de todas as coisas que eu sempre defendi, foi exatamente o receio que nos aproximou! Dois abestalhados, arrastando as correntes do passado, cheios de medo de se mostrar realmente. Pois exatamente foi sendo abestalhados que nos encontramos, nos identificamos e nos encantamos! Todo carinho que correu por entre nós foi recheado de sarcasmo, escárnio, ironias... mas muito afeto! O sentimento de esperança brota junto com a quantidade de sorrisos, a cada defesa que vai se abaixando, através de um carinho, uma mordida, ou quando ela se escorou em meu ombro e simplesmente cochilou!

Mas parece que a vida nos prova novamente e ela parte... sem previsão de volta e sem termos sequer realmente definido o que queríamos de nós! A vida não está aqui para ser agradável... Porém, “aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno”, como diria Baudelaire, e a esperança brotada lá atrás permanece viva! Assim como o apoio e o carinho, mesmo que a distância insista em nos estapear a cara. E, ora, quem sabe o que o futuro nos reserva?

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Sombra inevitável



De todas as características que as coisas têm, a mais encantadora e a mais destruidora é a finitude! Não existe bem que, com o tempo, mal uso ou abandono, não acabe. Um anel de metal nobre, que, largado num canto, fica entregue às traças, vai enegrecer. Um computador de última geração, que não receba manutenção constante, vai se tornar inútil. Uma imagem no porta retrato, que fique apenas embelezando a escrivaninha, mesmo com o cuidado, o tempo tratará de desfazer. Todas as coisas têm um fim e compreender isso é aterrorizante e ao mesmo tempo belo! Mas o que realmente é assustador é observar que, assim como as coisas, os sentimentos, relações e pessoas também o fazem! O mal uso, mal trato, mau cuidado, é óbvio, destrói tudo que toca. Já o abandono traz consigo uma sombra agonizante, que impede o calor de entrar no coração, fazendo ressoar cada batida com um eco quase fantasmagórico que assusta em cada onda sonora. O tempo pode ser o mensageiro mais cruel da finitude, pois a traz à prestação, deixando ao redor um pedacinho por vez, em cada direção, preenchendo cada espaço existente, para revelar seu tamanho esmagador...

Porém, a finitude não é só nefasta, ela também é de um charme raramente compreensível! É a compreensão da finitude que torna os sentimentos reais! É o vislumbre de sua chegada que faz com que algumas chamas se reavivam, com nova lenha alimentando línguas de fogo mais quentes. É sua presença que torna corações esmorecidos grandes guerreiros impetuosos, que a enfrentam e rechaçam, reafirmando a plenitude do sentimento!! A finitude existe! E sua sombra é inevitável... o que você fará quando ela se debruçar sobre você é que definirá o quanto vale a pena mantê-la à distância. Não a deixe se aproximar... mas não a perca de vista!